Essa é uma associação fácil de ser realizada: ligarmos crianças às brincadeiras. Todos nós que passamos por essa fase sabemos bem o valor que tem o tempo de brincar, os jogos preferidos, a felicidade quase nostálgica do compromisso inadiável com amigos e familiares para desfrutarmos desse momento.
Brincar, mais do que simplesmente o momento de divertimento, é uma etapa fundamental ao desenvolvimento e amadurecimento da criança. Durante a brincadeira, a criança tem acesso a conceitos que lhe acompanharão na vida adulta como a administração do tempo, o poder das escolhas, a arte de compartilhar e a socialização da vida em grupo.
Brinquedos tornam-se companheiros importantes e, nesse instante, a atuação dos responsáveis pode assumir um caráter educativo relevante. Em uma geração onde a interatividade com a linguagem digital é imperativa, e sem retorno, pois será a forma de comunicação presente em suas vidas adultas, também se torna igualmente importante que os responsáveis possam introduzir elementos menos presentes no dia a dia das crianças atuais como brinquedos educativos, de montagem ou que exijam um maior contato com ambientes externos ou com a natureza.
Em um momento médico onde a obesidade infantil torna-se um sério problema de saúde pública, estimular brincadeiras em praias, piscinas e parques, práticas de exercício como bicicletas, patins, skates, jogos de bola, pular corda ou até mesmo a antiga amarelinha, pique-esconde, pique-pega, pique bandeira, enfim, atividades que representam um convite a um equilíbrio saudável entre o bem vindo universo eletrônico e as atemporais brincadeiras ao ar livre.
Sob o contexto subjetivo, além da objetividade da brincadeira em si, o momento de brincar revela muito sobre a personalidade da criança ou expressa claramente os sentimentos que ela possa estar vivendo em sua vida pessoal naquele instante. Não é incomum a menina que revela na composição da vida familiar representada por suas bonecas, conflitos que a angustiam. Assim como meninos ou meninas que revelam agressividade ou carências acabam por encontrar um canal de exposição nas suas brincadeiras. Nesse cenário, mostra-se a importância de pais e demais familiares entenderem que devem observar, acompanhar e preferencialmente participar das atividades de suas crianças, em conjunto, para compreendê-los e ajudá-los.
A brincadeira pode ser uma ótima oportunidade para resgates familiares e também para que os adultos “sérios e cheios de compromissos” possam lembrar-se de como é bom ser criança!
Leitura sugerida: “O Brincar e a Realidade”, do pediatra e psicanalista D.W. Winnicott.
Guilherme Sargentelli – Médico pediatra,
gerente institucional do Grupo Prontobaby
e escritor da DOC.Editora
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